Com um registro de mais duzentos e sessenta mil mortes o Brasil revive o desespero que havia sido amenizado pelo tradicional comodismo da nossa nação que, infelizmente, não está habituada a respeitar regras. A corrupção que envolve os assuntos políticos e que contamina as instituições passou a ser uma cicatriz na cultura brasileira, uma marca, uma lesão que descreve uma história cheia de erros, além de um ponto de fragilidade.
Os bailes clandestinos, apesar do aspecto pouco agressivo, poderão ser pontos relevantes da história nacional, a julgar pelo fato de que estamos diante de uma das piores pandemias que o mundo já enfrentou e mesmo assim o brasileiro ignora o risco de morte para promover festas, portanto quando for legitimado um número expressivo da redução populacional o mundo passará a entender a verdadeira história e cultura do Brasil.
Em síntese, a capacidade hospitalar é o principal indicador do nível do problema, conforme dispõe o decreto estadual, deve ser considerada toda a rede disponível no território, para garantia da universalidade do atendimento à população, em contrapartida o agravamento das condições epidemiológicas não significa a mudança de uma fase para outra, tendo em vista que se houver capacidade hospitalar para absorver o impacto, por óbvio fica mantida a objetividade pretendida pela norma que é garantir atendimento a população.
Não há dúvidas que a covid-19 é um problema no planeta, o combate só será possível se houver contribuição e disciplina praticada por cada indivíduo em cada perímetro do mundo, caso contrário seremos reféns da doença por tempo indeterminado.
O Estado de São Paulo voltou a fase vermelha, ou seja, maior nível de restrição em virtude do aumento de número de casos e ocupação dos leitos dos hospitais.
Educação e honestidade não tem sido o forte da nação, mesmo diante de muitas mortes, os trambiques e gambiarras continuam demonstrando que o brasileiro tem uma criatividade quando o tema é violar regras.
O preocupante é a forma como nossos administradores públicos, os supostos gestores, tratam dos assuntos jurídicos e administrativos de interesse público, parece que aqui tudo é remediado com atos simbólicos, o famoso ato para “inglês ver”, porém agora a cobrança pela ineficiência serão mortes.
Decretos e protocolos norteados pela ciência, mas servem apenas para que os ocupantes de cargos de relevância tenham como esquivar-se da responsabilização de suas carnífices.
A crueldade dos nossos agentes políticos fica evidenciada nos transportes públicos lotados, na inércia diante de bailes e, no caso de São Paulo, ao favorecer um coletivo de moradores de rua permanecerem reunidos em um ponto da capital que é local de tráfico de entorpecentes e ignorar a pandemia.
Onde estão os secretários dos governos municipal e estadual para adotarem medidas emergenciais de contenção ao corona vírus na Cracolândia?
Não há dúvidas que aquele espaço é um centro de disseminação da covid-19, não prospera argumentações relacionadas ao direito de ir, vir e permanecer, nem tampouco as questões relacionadas aos direitos humanos fundamentais das pessoas que ali estão, tendo em vista que a vida é o maior bem a ser protegido e está sendo, de forma explícita, ignorado.
Agora mesmo pessoas do mundo inteiro estão implorando para que evitemos aglomerações, que façamos uso de máscaras e pratiquemos higienização das mãos com maior intensidade, tudo isso porque inúmeras pessoas estão lutando contra morte em respiradores, famílias amargando a dor luto e as perspectivas para o futuro não estão nada favoráveis, mas no Bairro Campos Elíseos as coisas são diferentes. Alameda Cleveland, Praça Júlio Prestes e Alameda Dino Bueno, certamente não fazem parte do planeta, considerando que o som o alto, euforia em uma reunião com mais de mil pessoas continua ocorrendo, vinte e quatro horas por dia desde que teve início a pandemia, um desrespeito a humanidade corroborado pela Administração Pública, Igrejas e as ONG´s que até o momento não tiveram a hombridade de manifestar a respeito de tamanha atrocidade em desfavor da humanidade.
- Até hoje tivemos que suportar as argumentações de militantes e ativistas de que Cracolândia é um problema de saúde pública, mas o que dizer da Covid-19?
- Eles são doentes e por isso podem favorecer que o mundo também adoeça?
Para aqueles que discordam que a Cracolândia e o poder público estão devendo ao Brasil, a título argumentativo vale uma breve reflexão com base na Constituição Federal:
Todos temos direito a saúde e é dever do Estado tomar providências para garantir a redução do risco de doenças, sendo assim a inércia diante da imundície que é a Cracolândia só nos faz ter o convencimento de que é uma omissão que exige responsabilizações, não só administrativas, mas também na esfera cível e penal.
Higienista?
Não, apenas alguém que reconhece um local com pessoas que estão afrontando os protocolos de sobrevivência!
A humanidade está morrendo e a defesa é higienização.
Não há inocente na Cracolândia, inclusive aqueles que tem a atribuição de administrar, o Código Penal é muito cristalino a respeito do tema:
- Art. 268 – Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único – A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
A sociedade tolera o tráfico e porte de entorpecentes, os roubos, furtos, vandalismos e ocupação irregular dos ambientes, mas atentar contra a saúde conduz ao limite da tolerância.
Administração Pública tem responsabilidade por deixar de fazer e os ocupantes daquele local por ignorarem as determinações previstas nos decretos que visam o combate a pandemia.
Lockdown ou fase vermelha são meras formalidades, enquanto mais de mil pessoas estiverem reunidas violando os protocolos e circulando pelo centro da cidade para multiplicar pontos de contágio.
As autoridades judiciárias, Defensoria Pública e os advogados que estiveram todos estes anos pronunciando com excelência suas teses jurídicas de proteção aos direitos humanos e definindo como questões sociais e de saúde, agora tem a oportunidade de promoverem, ainda mais, os direitos humanos fundamentais, afinal a ciência não mente e da forma displicente como estão os frequentadores da Cracolândia, além de morrerem, irão transmitir corona vírus pelo centro de São Paulo.
- A Estação Júlio Prestes, Estação Luz e os comércios localizados na Avenida Duque de Caxias, Rua Mauá, Avenida Rio Branco e na Rua Santa Efigênia e adjacências são locais onde, sem sombra de dúvidas, estão diversos pontos de contaminação.
Imagine o corrimões, catracas e vagões dos trens das duas estações ou aquele produto que o frequentador da Cracolândia colocou as mãos e deixou na prateleira. O centro de São Paulo é e continuará sendo um grande ponto de contaminação de covid-19, as violações das determinações e a forma como os governantes vem ignorando o potencial destrutivo da Cracolândia é um crime contra a saúde pública.
O local deve ser evacuado, inclusive forçando o distanciamento e uso de máscaras. A polícia pode e deve fazer uso da força para encerrar aquela aglomeração, agir em proteção da vida, mesmo que para isso seja necessário prender e até mesmo, em legítima defesa, matar, afinal a supremacia do interesse público deve ter seu valor neste momento tão difícil que o mundo está enfrentando.
Deixar como está é permitir que bandidos, usuários e dependentes matem pessoas, simplesmente para evitar o desgaste com a imprensa e o desgaste na vida política.
Uma tragédia anunciada.